Cevicheria

Convidados, mamãe e papai chamaram dois pernambucanos para passar o fim de semana em casa, e apesar de um deles invadir o meu quarto e dormir lá, eram bem simpáticos e amigáveis. Porém, falavam tudo ``errado´´. Minha irmã me mostrou uma imagem da bandeira do estado deles. Assim olhando aquele arco-íris com um sol no meio, em um fundo azul, dei o nome de arco-íris de três cores (verde, amarelo e vermelho). Entretanto,   para se sentir bem com seus convidados, comiam de manhã papaya cassis, e a noite rum com sorvete de bis.         
Até que um dia, Mamãe teve a ideia de ir para um restaurante chique, com comidas tão surreais que eu sentia nojo.  Já com sono, entrei no Uber, e fiquei observando sua rota no celular do meu pai. Ao chegar lá, eram 10 horas da noite, minha irmã me empurrando de um lado para o outro para me tirar do cochilo. Ao abrir a  porta do carro, meus olhos cegaram ao ver as luzes de uma placa escrita ``CEVICHERIA´´.
Entrando em um ambiente colorido e quente, vendo pessoas em todo o lugar, e garçons levando pratos loucos e interessantes, até o polvo do Nemo agora morto, com seus tentáculos para fora do prato com folhas e frutas em volta.
Ao sentarmos na mesa redonda de madeira, deito minha cabeça na superfície quente, pego meus talheres mais pesados que o
normal e começo a brincar de ``lutinha´´, entre o garfo e a faca, fazendo com que o garfo sempre ganhasse. Assim até que a minha mãe arrasta o cardápio de couro entre mim e a mesa. Peguei-o e olhei as páginas embrulhadas com contact os pratos que serviam. Sem saber direito os desconhecidos  ingredientes, sem noção nenhuma do que eu pediria, li : blablablablá manga bla´´, só reconhecendo a fruta que leveva para meus lanches escolares e suspeitando de que gostaria deste prato. Neste meio tempo, minha mãe até ficou supresa com a minha confiança.
        Os pernambucanos pediram o polvo e a minha mãe, pai e irmã um tal de ceviche com umas folhas e um caldinho de limão. Neste momento, o garçom traz o meu prato, e só vejo os pedaços de manga do ângulo que ele segurava o prato, até que tira o cardápio da mesa e coloca meus pedaços de manga na minha frente. E já com uma cara de nojo, vejo peixes, folhas, limão, e a minha manga, me forçando a empurrar para longe o prato. Olhei para meu lado e vi a cara de sério do meu pai, sabendo que de um jeito ou outro teria que engolir aquela meleca. Tremendo, peguei meu garfo, finquei-o na manga, misturei com o caldo de limão e saboreei-o. Era melhor do que o esperado.


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